sexta-feira, março 02, 2007

A violenta falta de oportunidade

Estratégias de proteção são praticadas diariamente pelos jovens das comunidades da periferia, uma necessidade criada a partir da realidade. As dificuldades enfrentadas todos os dias se refletem nos atos impulsivos de alguns, principalmente na forma de violência.

Como se defender da falta de chance? A sociedade cobra sempre de quem não a teve e continua fechando os olhos para as verdadeiras razões da violência. As questões são interpretadas de cima pra baixo, jamais o contrário. Continuamos construindo muros para esconder o que não queremos ver. Isso, claro, não resolve.

Barreira construída pelo Shopping Tacaruna: o que a burguesia não vê, não existe. Construído ilegalmente, o muro esconde a pobreza da comunidade da Ilha de Santa Terezinha dos consumidores do centro comercial.


A classe média quer ser ouvida, mas não percebe o outro enquanto indivíduo. A violência só existe quando acontece consigo. Fere, machuca, mas não mais do que a ausência de oportunidade para enfrentar coisas simples. Enquanto a sociedade se preocupa em construir presídios, a vida de vários é destruída aos poucos.

O que é mais violento? Um celular sendo levado por alguém que apontou uma arma para sua barriga ou uma barriga vazia junto ao preconceito, à falta de expectativa e a todas as dificuldades diárias de quem é visto pela mídia, principalmente, como marginal?

Faz parte da construção da identidade dos jovens a imagem que eles têm de si mesmos. A forma negativa como, atualmente, a mídia monta isso, influencia diretamente nessa formação. Jovens pobres sempre são mostrados como pessoas que escolheram o caminho do crime. Escolha?

Essa representação é aceita como verdade absoluta, sem nenhum questionamento. Especialmente pelos “cidadãos de bem”, que só lembram da palavra violência quando lhe é retirado o direito de ir e vir. Direito esse que, por falta recursos, a periferia é, muitas vezes, privada. Cidadãos de bem e seus bens.

Voltando a questão da escolha, essa só pode ser realizada quando alternativas são apresentadas. Roubar para ter algo que o capitalismo impõe violentamente não é opção. Alternativa seria se, mesmo com as oportunidades oferecidas, a pessoa optasse pela violência.


“Desvio dinheiro de qual setor? Saúde ou educação?”. Isso é que é alternativa, da mais violenta, por sinal.



As soluções dadas para as dificuldades até agora são todas de privação, nenhuma de interação. O intercâmbio de informações periferia/burguesia talvez fosse essencial para a criação da identidade de ambas as partes, deturpadas pelo preconceito recíproco. Mas podemos continuar com a violentíssima indiferença, se preferir.

3 comentários:

Julliana Araújo disse...

Não adianta esconder uma situação ou uma vez ao ano doar uma cesta básica, achando que isos vai resolver o problema.
Nossa gente, quer comida, mas tbm quer saúde, educação e acima de tudo dignidade.

gmarquim disse...

Enquanto isso, no Reino do Faz de Conta, compra-se roupa, vê-se filmes e passeia-se entre as lojas iluminadas...

Hugo disse...

pois é... vão se criando ilhas e mais ilhas, mas o mar sempre avança;

P.S: no caso de quem gosta e quem não gosta... bem lembrado. MMc nem que gostasse teria força para praticar tal ato. hahahaha e os outrs senadores daqui?

=***